segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Confira a primeira entrevista do líder do PT, deputado Yulo Oiticica, ao site Teia de Notícias

Ele é o deputado petista mais jovem na Assembleia Legislativa da Bahia, mas possui o maior número de mandatos entre os membros do PT na Casa. Com 46 anos de idade e quatro eleições conquistadas, Yulo Oiticica fala sobre a missão de liderar a bancada formada por 14 parlamentares do Partido dos Trabalhadores. Nesta entrevista ao Teia de Notícias, o deputado comenta ainda sobre a polêmica desistência do cargo que tinha direito na Mesa Diretora. Pelo que ficou claro, Yulo salvou o mandato do colega J. Carlos, que praticamente tomou lhe de assalto o posto de 1º secretário da Assembleia.

Por Gusmão Neto

Teia de Notícias: Deputado, de que forma você pretende encarar o desafio de conduzir a bancada do PT, um partido mais do que plural e agora está representado por 14 parlamentares de segmentos internos bem distintos uns dos outros?

Yulo Oiticica: Sobretudo é uma múltipla responsabilidade. O PT acaba de fazer 31 anos, um partido que em tão pouco tempo se caracterizou como o maior partido de massa do planeta. Na Assembleia Legislativa da Bahia, a responsabilidade é múltipla também. Nós somos 14 deputados podendo esse número chegar a 15, diante de ações que correm aí na Justiça. Além de ser uma quantidade muito grande – eu estou falando aí de ¼ de toda Assembleia de um universo de 63 – estamos à frente de um grupo de legisladores com muita qualidade. Então responder às expectativas desses bons deputados é um grande desafio. Mas outro importante desafio é garantir a governabilidade do governador Jaques Wagner, que precisa da Assembleia Legislativa. As atividades no parlamento são bastante complexas em seu dia-a-dia. Não adianta dizer que ter maioria folgada significa que está tudo resolvido. Na verdade não é nada disso, porque a dinâmica é muito intensa. Hoje podemos ter maioria e amanhã não mais. Pretendo estreitar ainda mais o elo com a liderança do governo, conduzida pelo companheiro Zé Neto e com o presidente Marcelo Nilo, que por sinal vem conduzindo muito bem esse debate. Eu estou aqui em meu quarto mandato, o que me dá um transito melhor, uma melhor relação.

Teia: Unificar o discurso entre os membros do PT não é uma tarefa nada fácil, por causa das inúmeras correntes internas, e na Assembleia a divergência de conduta pode comprometer a governabilidade. Você já tem um plano para lidar com isso?

Yulo: Só para ilustrar isso que você está dizendo, mas em um universo maior que Assembleia Legislativa, na sexta-feira passada (18 de janeiro) eu tive uma reunião sobre a situação de litígio nas etnias indígenas do nosso estado e lá estavam três deputados. Eu defendia os índios por conta da minha luta dos Direitos Humanos e do outro lado, entre os dois deputados que defendiam os fazendeiros, um era do PT. Isso só para você entender como é a pluralidade do partido. Aqui na Assembleia Legislativa eu tenho concebido que o nosso objetivo comum é a sustentabilidade da bancada governista. Isso é fundamental e unifica todos nós da base. Eu sei que ser líder é administrar interesse dos outros. Se você não faz isso, você não consegue ser um bom líder. Caminhar nesse trilho significa ter a cumplicidade dos companheiros. Foi o que aconteceu: os deputados me escolheram para ser líder por unanimidade, não só para representá-los na Casa, mas também fora dela. Agora eu tenho também assento na Executiva estadual da legenda e na comissão política, que agora está discutindo na Secretaria de Relações Institucionais os cargos que o PT terá direito. Se eles confiaram em mim a responsabilidade de liderar a bancada e tenho o dever de superar as expectativas de todos.

Teia: Deputado, hoje ficou mais fácil defender os pleitos do governo na Assembleia por conta de sua hegemonia?

Yulo: Olha, eu não digo que seja fácil por conta da hegemonia que você se refere, eu digo por conta do êxito do governo Wagner em seu primeiro mandato. Um governo que venceu no primeiro turno com mais de 64%, que foi capaz de iniciar um processo de quebra de paradigmas. Nós herdamos um estado campeão de analfabetismo, com mais família passando fome, com mais comunidades sem energia. Aqui não se pensava em política de Estado. Então não é difícil defender um governo que conseguiu vencer a chamada herança maldita e que implantou políticas públicas em setores como Educação e Saúde. Não é à toa que tínhamos uma bancada de 10 deputados e fomos para 15. Não só o PT, mas todos os partidos, que apoiaram a campanha de Wagner, tiveram esse aumento. Agora friso que o debate é sempre salutar. Nesses meus três mandatos já cumpridos, já vi embates fortes, com cadeiras voando, por pouco deputados não irem às vias de fato, troca de adjetivos terríveis, dentre outros. Não precisa isso, mas um bom debate responsável com a oposição é sempre saudável para a democracia.

Teia: Uma das principais críticas ao parlamento baiano é que a Assembleia Legislativa perdeu a sua independência e passou a ser uma Casa homologatória que atende somente aos interesses do poder Executivo. A bancada do PT vai se posicionar para que a Assembleia seja mais independente?

Yulo: Olha, me permita fazer outra leitura. A Assembleia Legislativa da Bahia, antes, era conhecida como mero apêndice do Executivo. Essa Casa aqui era tida como uma secretaria de Estado. Só para se ter uma ideia, aqui já foi aprovado projeto com erro ortográfico, ou seja, não se podia fazer nem uma alteração desse tipo. Ele foi aprovado na Assembleia porque a órdem era aprovar. É trágico, mas já chegou a esse nível aqui. A subserviência se dava há muito pouco tempo atrás por conta da soberania do Executivo em detrimento de todos os outros poderes (está se referindo ao carlismo).

Teia: Mas dizer que a Assembleia ficou menos dependente, não quer dizer que conquistou a independência...

Yulo: É verdade. Se você me perguntar se a Assembleia avançou muito desse tempo para cá, eu vou dizer que não. A harmonia é fundamental, mas o poder soberano é muito ruim para a democracia. Pensando nisso, eu acho que a Assembleia precisa avançar nesse sentido e votar projeto de deputado. O deputado precisa apresentar a proposta dele. Se for ruim ou boa, o plenário está aí para aprovar ou não. Num processo de democracia representativa, você está aqui porque representa algum segmento.

Teia: Deputado, mudando de assunto, ainda é uma incógnita a sua repentina desistência de concorrer à eleição de 1º secretário da Mesa Diretora. Você já conseguiu digerir a pressão que o deputado J. Carlos (PT) fez para assumir o posto que era seu por legitimidade?

Yulo: Para que não fique mais nenhuma dúvida, vou contar toda história. Em nossa bancada de deputados existem regras, critérios e princípios para destinar os cargos na Assembleia. Tem o critério do tempo de atividade na Casa e o critério de rodízio. Isso foi estabelecido para que todos tenham espaço, afinal ninguém tem mais direito que o outro. No meu caso, eu tinha colocado meu nome para a Mesa, tanto eu quanto o deputado J. Carlos. Como tinham no jogo dois nomes visando o mesmo cargo, os critérios e princípios deveriam ser colocados em prática. Assim sendo, eu venceria porque sou o deputado com mais tempo na Casa. Eu venceria também no critério rodízio, porque nunca havia ocupado um cargo na Mesa. Ele já. Mesmo assim, ainda fizemos uma votação entre a bancada para saber se manteríamos essa tradição e, mais uma vez, eu venci. Ainda assim, o deputado J. Carlos, em uma atitude de indisciplina partidária disse que ia lançar candidatura de qualquer jeito. Em nosso partido temos um Estatuto que deve ser respeitado, mas nesse instante estava sendo ferido.

Teia: Então é ainda mais grave do que se tem conhecimento, não é?

Yulo: Tem mais. Além disso, eu falei com todos os deputados, da base do governo e da oposição, e todos eles fecharam acordo em me apoiar. Então o deputado J. Carlos não teria a menor chance de ser eleito na votação. Se fosse seguido o rito, eu deixaria meu nome como o candidato da bancada, eleito por unanimidade e o deputado J. Carlos lançaria o dele, em uma candidatura avulsa. Diante disso, o líder da bancada do PT naquele instante, deputado Paulo Rangel, pediria uma Questão de Ordem para comunicar o imediato afastamento de J. Carlos da bancada e, consequentemente a Comissão de Ética do Partido dos Trabalhadores iniciaria o processo de expulsão do deputado. Se assim fosse, o que estaria na imprensa no dia seguinte? ‘Governador e bancada não têm capacidade de construir unidade’. Então o que pensei comigo? Eu não era o problema, mas poderia ser a solução. Foi pensando na minha responsabilidade com o governador Jaques Wagner, com a bancada do governo e com o meu partido, que tomei aquela decisão. Em plenário, solicitei uma Questão de Ordem para retirar a minha candidatura e, em meu pronunciamento, fiz questão de não expor o deputado J. Carlos.

Teia: Pode-se dizer então que o deputado J. Carlos lhe deve o mandato?

Yulo: (Risos) A vida cuidará de pagar essas dívidas. A história sempre dá essa resposta. Enfim não tenho absolutamente nenhuma crítica a fazer contra ninguém. Assumo os ônus e os bônus das minhas decisões políticas. Já passei dos 18 e tudo que faço, assumo com muita tranquilidade. Tenho minha responsabilidade com o governo e foi pensando nela que o fiz.

Teia: O assunto é mesmo página virada?

Yulo: Sem dúvida, o deputado J. Carlos é um amigo, um companheiro de muitas lutas. Não será esse episódio que vai fazer com que a nossa relação se acabe. Mas não tenho dúvida de que esse deve ser um exemplo para que, nunca mais, nenhum militante do PT faça isso em nome do desejo pessoal. Todos nós temos projetos pessoais, mas o projeto coletivo deve prevalecer. Foi pensando nisso que tomei aquela atitude.

Teia: Deputado, você militou muito tempo na tendência petista chamada Articulação de Estquerda e deixou o grupo após um rompimento com Valmir Assunção, líder da corrente. Qual foi o estopim para esse afastamento?

Yulo: Olha, não há nenhuma divergência da minha parte com o deputado Valmir Assunção. Faço questão de destacar isso, porque Valmir é um companheiro de muitas lutas. Somos amigos de frequentar a casa do outro. A minha saída da Articulação de Esquerda, que não cabe aqui entrar em detalhes, foi simplesmente por incompatibilidade. Houve divergência de pensamento com os métodos implementados pela direção da tendência. Mantenho uma relação de companheirismo com todos eles, afinal são companheiros do PT, mas por concepção de métodos resolvi sair. Agora estou independente, não estou em tendência nenhuma. Tenho uma avenida pela frente. Muitos têm me procurado para fazer uma série de discussões. Eu costumo dizer que o raciocínio do governador Jaques Wagner sobre esse lance de tendência é o mais perfeito. Ele nunca foi militante de carteirinha de nenhuma tendência e mesmo assim sempre esteve bem no partido.

Teia: Dizem que você é um dos preferidos do governador. Você confirma?

Yulo: Eu sou um homem de muita fé, mas de não tanta sorte. O governador é um republicano e tem um olhar especial por toda bancada do PT.

Teia: Você sonha em alçar voos mais altos na política?

Yulo: Eu acho que humildade é característica dos grandes. Depois eu tenho muito medo. Eu não acho que o poder muda ninguém, mas revela as pessoas. Confesso que antes de ser deputado, eu tinha muito medo de ter poder. Hoje depois de três mandatos aprendi a lidar com isso. Na verdade eu tento me manter distante de tudo que cheire a carreirismo ou coisa parecida. Eu nunca pedi a Deus para ganhar eleição. Sempre pedi que fizesse o melhor. Portanto a minha espiritualidade é que guia a minha ação política e eu não abro mão dela. Se o inverso acontecer, certamente estarei em maus lençóis.

Site Teia de Notícias 22/02/2011

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