domingo, 11 de dezembro de 2011

Muitos estados, muitos problemas. A juventude reivindica a partir de suas realidades

Reivindicações locais e regionais presentes na Conferência de Juventude mostram a diversidade de pautas e problemas

A bandeira dos coletivos de comunicação e inclusão digital é uma das reivindicações de Murphy, do movimento Hip Hop paulista (Foto: Alessandro Muniz)

Desenvolvimento econômico que afeta a ancestralidade dos povos em Pernambuco, em especial dos jovens, o extermínio juvenil no Paraná e a dificuldade do acesso da juventude indígena baiana às tecnologias são algumas das pautas que as diversas delegações trouxeram a partir de suas realidades locais e regionais para a 2ª Conferência Nacional de Políticas Públicas para a Juventude.

Para os jovens do Paraná, o extermínio juvenil é grande preocupação. Os indicadores do estado trazem Foz do Iguaçu como a segunda cidade no país em que morrem mais jovens por causas externas. As delegadas paranaenses Crisfanny Souza e Michely da Silva, ambas de 24 anos, explicam que essa situação faz com que a principal preocupação delas seja a defesa do direito à vida, em especial da população negra. “O jovem negro só aparece nas estatísticas da mortalidade”, exemplifica Crisfanny.

Ninja Zulu ressalta a necessidade de capacitação em segurança pública para que os profissionais atuem de forma cidadã (Foto: Nealla Machado)

Em Belém (PA), o movimento Hip Hop está reivindicando a valorização das culturas juvenis, buscando fazer com que os jovens corram atrás de seus direitos e proponham melhorias para a segurança pública no país. Zulu Ninja, de 33 anos, da capital paraense, pertence à organização Nação Zulu. Ele explica que é necessário mais capacitação dos profissionais da segurança, pois a juventude não enxerga a polícia como cidadã quando se aborda o jovem na rua só por ser jovem ou não o trata com respeito. Ele defende ainda que a região norte precisa de mais projetos por parte dos governos e que os projetos locais sejam apoiados, pois “muitas iniciativas não vão além de Belém por falta de apoio”.

São Paulo, pela grande pluralidade cultural, veio com diversas representações coletivas para a defesa das políticas públicas para a juventude. Murphy, de 30 anos, também do movimento Hip Hop, defende a bandeira dos coletivos de comunicação como uma forma de inclusão digital dos jovens da periferia, citado a inclusão dos softwares livres como uma forma de difusão das mídias coletivas e alternativas. Ele defende ainda a potencialização da mão de obra dos pontões de cultura, para que os jovens formados por meio desses ambientes tenham como se profissionalizar e trabalhar com cultura em suas regiões. Mas, para ele, “o mais importante é garantir o direito à vida para os jovens negros das favelas e periferias, que também em São Paulo estão sofrendo um processo de extermínio por parte da polícia e do estado.”

O desenvolvimento econômico trazido pelos investimentos nas indústrias, estaleiros e portos é uma temática destacada pela militante do Fórum Nacional da Juventude Negra Marta Almeida, de 28 anos, de Pernambuco. “Nós queremos debater o desenvolvimento sem que ele passe por cima da ancestralidade e das comunidades tradicionais”, afirma ela. Enfatiza a necessidade de incluir a juventude nesse desenvolvimento e mostra que no estado o extermínio de jovens, principalmente, negros, é também recorrente.

Em Goiás, Jefferson Roberto, de 23 anos, garante que o descaso vai além da falta de políticas públicas direcionadas para a juventude. Um dos grandes problemas, novamente, é a política para o extermínio de jovens da periferia. “O jovem comente algum delito, faz 18 anos e a policia dá fim nele”, afirma. Outras pautas também defendidas pela juventude de Goiás trata do descaso do governo em relação à educação pública e à manutenção da saúde, pela não privatização dos hospitais públicos da capital Goiana.

Campo em pauta

A permanência e continuidade da juventude no campo estão entre os temas abordados por mais de duzentos jovens vindos de todo o Brasil pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). Elenice Anastácio, de 33 anos, do Rio Grande do Norte, integrante do Conselho Nacional de Juventude e da Comissão Organizadora Nacional da Conferência questiona quem vai produzir os alimentos para o país e para o mundo se os jovens estão saindo do campo? De acordo com Elenice, o fechamento de mais de 30 mil escolas rurais é só um dos motivos da saída dos jovens do campo.

Diretamente da Aldeia Manga, no Oiapoque (AP), para a Conferência, Lilian Ramos Oliveira, de 21 anos, da etnia Caripuna, afirma que a saúde é prioritária para seu povo. Ela ressaltou a precariedade e necessidade de mais recursos para a saúde e lamenta que outros indígenas de sua etnia não puderam vir à Brasília por falta de apoio. A dificuldade dos jovens participarem da Conferência também é uma pauta defendida.

Representando o povo Tupinambá da Bahia, Alisson Cruz, de 23 anos, explica que, enquanto segmento, os jovens indígenas esperam contribuir com todas as discussões. “Mas também queremos tratar do respeito aos povos indígenas, da educação indígena”, reforça. Segundo Alisson, a vontade de acessar os bens sociais também faz parte dos anseios dos jovens indígenas. “O mesmo que os jovens brancos querem, nós também queremos”, afirma.

Cada região do país, a partir de suas diversas realidades e particularidades, enriquecem o debate sobre políticas públicas e mostram a cara do país, construindo um panorama das demandas juvenis e mostrando que as juventudes estão comprometidas em lutar pela melhoria de suas respectivas regiões e de todo o Brasil

Fonte: www.agenciajovem.org

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