terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Iniciativa inovadora traz para a Conferência jovens em cumprimento de medida socioeducativa

O estado da Bahia lançou uma inciativa pioneira e inovadora nessa 2ª Conferência Nacional de Juventude. Pela primeira vez, jovens em cumprimento de medida socioeducativa participam como delegados de uma Conferência Nacional. O jovem E.C., de 19 anos, em regime semiaberto após um ano e meio em privação total, e a adolescente M.J.P., 17 anos, há nove meses em regime de privação total, participam como delegados no Eixo “Direito à diversidade e à vida segura”.

A iniciativa foi uma parceria da Fundac – Fundação da Criança e do Adolescente da Bahia com a Comissão Organizadora Estadual da Bahia e o Conselho de Juventude – CEJUVE do mesmo estado. “A Bahia tem conferências nas comunidades quilombolas e indígenas e por isso decidiu contemplar também esses jovens em medidas socioeducativas. O estado é pioneiro nessa inciativa”, explica Luciana Rosa, assessora de Comunicação da Fundac.

O processo de escolha dos delegados começou com a 1ª Conferência dos Jovens em Medida Socioeducativa e Egressos da Bahia, que reuniu 500 adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas em oito unidades do estado. No evento, 15 jovens foram eleitos delegados para a etapa estadual e E.C. e M.J.P. foram os dois escolhidos para representar o grupo na etapa nacional, em Brasília.

“Eu estou achando essa Conferência importante, pois é a primeira vez que eu saio do meu estado e eu estou aqui não porque me colocaram, mas porque eu conquistei”, comemora o jovem E.C. “Estou aproveitando muito essa oportunidade e aprendendo coisas que eu não sabia, eu nunca tinha ouvido falar de Conferência. Conheci gente de vários lugares, conversei com índios, fiz amizades, conheci pessoas novas, é uma experiência muito boa”, vibra o garoto. Já M.J.P. conta que veio para Brasília “para falar um pouco da realidade minha e das minhas companheiras de alojamento. Aprendi bastante e agora vou compartilhar com elas tim tim por tim tim quando eu chegar lá”.

E.C. só reclama um pouco da organização da Conferência. “Achei um pouco desorganizado, pois nós fomos para o GT de Direitos Humanos e um tempo depois falaram que tínhamos que ir para outro GT. Quando chegamos lá, o pessoal já tinha discutido as propostas e eu nem pude fazer a minha direito, então se vocês deixarem, eu queria deixar a minha proposta registrada aí!”.

NOTA DA REDAÇÃO: Claro que a gente deixa E.C. Manda vê no seu recado:

“Na unidade que eu estou tem 78 adolescentes. Tinha um educador que conseguia vagas para alguns meninos no programa ViraVida, que é do Sesi, do Senai e do Sesc. Mas ele só consegue vagas para dois adolescentes, e quando eles se formam, consegue mais duas vagas. Então, minha proposta é que as empresas e cursos profissionalizantes façam parceiras com a Fundac para desenvolver atividades dentro das unidades. Aí quem está no cumprimento já sai com um emprego, pois quem está ali cumpre um ano, um ano e meio, tem até de dois anos e oito meses, mas quando sai não tem o que fazer e volta para a vida do crime de novo. Eu sou sincero, se eu não tivesse a oportunidade que estou tendo, quando eu fosse liberado, eu não vou mentir não, se eu não tivesse o que fazer eu ia voltar para o mesmo ramo”.

Ainda bem que E.C. conseguiu uma oportunidade. É bem provável que no próximo mês ele seja liberado do regime semiaberto e já tem o seu curso profissionalizante, com oportunidades no mercado, garantido. Ele encerra o bate-papo com a Agência Jovem de Notícias com mais uma reivindicação: “é preciso aumentar o salário dos nossos orientadores e profissionais que trabalham com a gente, eles são merecedores, nós somos tratados muito bem, eles passam confiança, nos respeitam e quando eu sair do cumprimento vou querer visitar o Washington, meu orientador, na casa dele. Ele virou meu amigo”.

Fonte: www.agenciajovem.org

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